"Estava lá. Sentada num banco de madeira em frente a praça num dia de domingo, o que eu estava fazendo ali? Também não sabia, apenas estava olhando a praça deserta, escutando o sopro do vento frio enquanto as folhas secas caiam. Realmente parecia uma cena de filme de drama, aquele em que a menina não sabe o que fazer mas de repente lhe surge uma ideia magnífica. Não foi assim comigo. Uma pena. Seria ótimo ter aproveitado melhor aquela manhã, pensei.
Alguém se aproximou. Sentou ao meu lado sem dizer uma palavra. Não me movi e tentei não demonstrar meu medo, mas não havia o que temer, a diferente ali era eu, e ele percebeu, porque podia me ver.
- Está sentada aqui há muito tempo?
- 3 anos.
- Sua bunda não cansa? - Ele me fez rir com aquela pergunta idiota.
- Talvez um pouco, mas estou me acostumando.
- Porque não vai pra casa?
- Irão me levar para o hospital assim que eu chegar em casa, então preferi vir aqui me despedir.
- Despedir do que? Essa praça mal sabe que você existe. - Ele foi curto, grosso e ao mesmo tempo sincero.
- Tem razão.
- Porque não se despede dos seus amigos?
- Não tenho.
- Avós? Tios? Primos?
- Não tenho.
- Parentes?
- Não tenho.
- Namorado?
- Não tenho.
- O que você tem então?
- Nada.
- E assim que vai ser seu fim, sem dizer um mízero adeus?
- Ás vezes um adeus dói muito mais que meu silêncio.
- Como pode ter certeza?
Segurei na mão do rapaz que sentava ao meu lado e eu mal sabia seu nome, pus a mão dele sobre meu coração.
- Está escutando bater?
- Na verdade... não.
- Sabe porque não vou dizer adeus?
- Porque?
- Porque há 3 anos atrás um adeus o arrancou de mim.
- Eu sinto muito.
- Não sinta.
Mostrei meu pulso a ele, ele disfarçou a surpresa e me olhou indiscreto.
- Porque fez isso?
- Não aguentei ver as pessoas que mais amo separadas.
- Elas ainda estão vivas?
- Sim.
- Sabem que você fez isso?
- Não fazem ideia.
- Sabem que você morreu?
- Também não.
- Então fez alguma diferença?
- Fez.
- Pode me dizer qual?
- Não preciso mais chorar por ver um palco onde pisavam seis, vazio.
- Todos seguem sua vida. Cada um seguiu a sua. Você tem que entender.
- E eu segui a minha. Agora não dá tempo para "entender".
- Não vejo uma razão concreta pra isso. E se pudesse voltar atrás?
- Faria tudo de novo. Pra você viver, você respira.
- Certo.
- Você precisa de ar.
- Você também.
- Não. Eu não preciso de duas letras.
- Não me faça de idiota.
- Eu preciso de três.
- Quais seriam?
- RBD."
tb.
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